segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Quero os olhos a boca e teus cabelos,

Tuas cores teus delírios teus sabores,

O teu ar, teu mar, teu pesar,

Quero a mão sobre a minha,

Sobre a xícara quente, de uma noite fria,

De um café amargo,

Quero as noites ter a rima de improviso, o luar,

Os galhos das arvores cúpulas de nosso lar,

Perto do fogo, fogueira, chama, manto, a queimar,

O sol da flauta , um sopro um vento, um doce cantar,

Quero o tédio feito de arte, juntos a criar,

Um novo mundo, um novo astro, um novo lar,

Quero os músculos ardendo,

A cachola fritando,

A testa suando,

Por juntos lutar, pela verdade de um amor,

Que o mundo a de encontrar,

Quero matar a vaidade,

Mostrar a liberdade,

Comer o fruto proibido

E ser contigo o infinito continuo.

O sol a pino, anuncia o carnaval,

O fogo arde, chama infernal,

Traça o riso do medo,

O brilho dos olhos de um pardal,

Criaturinha pequena, voa tonta pelo farol,

Jogam-lhe migalhas.

Traz ao bico um cigarro,

Um escarro,

A garganta um coração , um sapo,

Sandálias de Adeus de pés no chão,

Um uivo animal.

Quanta desgraça!

E ali, quem passa? És a morte,

Que cerca a ultima piada de esperança,

Cantam os tambores!

A preta dança pra afastar o mal,

Brasil! Não ria! Do choro de um pardal,

A decadência, o degredo, é real,

Não aplaudam, não se assustem!

Levanta-te a cabeça que pensa e pense!

E sinta! Tens os músculos de um país,

Tens o grito gutural de uma verdade que tu sabes,

Dói e faz mal.

Gritem! GRITEM toda essa dor!

Queremos amor! AMOR!

Não migalhas de um doutor,

Não as mentiras do senhor!

Tuas mãos fazem mais do que repetir,

Tecem o manto pra vestir,

Queremos terra pra planta,

Vida pra cultivar, verdades para amar.

Basta! Quero que esse chão se afunde!

Quero que esse teto caia!

Quero que essa fome coma!

Quero que essa vergonha saia!

Abra alas pro amor que venha,

Que esse sono durma de baixo de um coqueiro em salvador,

Quero esse luxo verde, de arvores frondosas,

Quero esses cabelos soltos,

Esse olhar tranqüilo, e todos os frutos aos nossos filhos.

Tão pouco importa os metais raros,

Os tecidos finos,

Entender os vinhos caros,

Quer entender mais raro;

Que o das sutilezas de um bosque, o orvalho,

Da vida de um carvalho,

Da liberdade de um canário,

Tão pouco importa;

O sobrenome do augustíssimo,

Diplomacia, hierarquia, etiqueta,

Pragmática, conservadores e doutores,

Aduladores, imagens santas,

Para tanta arrogância o mesmo peso a ignorância.

Tão belos és os mantos que as pretas velhas tecem aos cantos,

Encanto-me, ao velos os jarros, de barros vermelhos,

Tomar forma, e ir ao forno a lenha,

Lenha que a noite venha,

E em torno da fogueira,

Muitos instrumentos de bambu e madeira,

Frutos que colhemos com as mãos que os plantaram,

Erva cuidada roda a roda e todos a roda a suspiraram,

Sutilmente, levemente, a celebraram,

Na harmonia ouve-se cantos de corujas o rugir dos tambores,

O sopro do ventos e das flautas em comprimento,

Os bandolins estão nos chamando os poetas cantam,

E todo o resto, dançam,

Ali ninguém sabe o que é monogamia , ou o que deixa de ser isso,

Ninguém entende o que não possa ser natural,

Só entendem o que é amor, entendem o poder de suas mentes,

Mas sabem do que vive o coração.

Despertaram veementes,

O café a pouco moído,

Perfuma a manhã, tem bacias de maçã, mexerica pocã,

Pães frescos, tortas de nozes e avelã,

Banana nanica, aveia e açaí,

E por ali, um sagüi pega com as mãozinhas um caqui,

Das bandas de lá , vinha vindo um andarilho,

Sem dinheiro , nem sorriso,

Só trazia consigo dores e castigos,

A vaidade dos homens o estuprara,

A ganância o afogou, o desprezo retalhou-o.

Chegue mais meu rapaz, aqui é festa os ventos que lhe traz,

Todos levantaram, o saldaram,

Quer abrigo? Aqui se faz.

Ensinaram-lhe a tecer, plantar e colher,

A energia do Sol, as águas do lençol,

A arte em madeira, bambu, pedra barro,

E banhar-se em cachoeira.

Aqui a política é o amor,

Pouca importa herança de sangue, o que traz na bagagem ,

Queremos decepar a dor, admirar a paisagem

Trocar carinhos, ensinamentos, e saber que estamos só de passagem.

O7-10-2011