segunda-feira, 16 de maio de 2011

Trilogia

Caminho quase que dançando passo por passo, uma valsa bastante lenta, rodopios que ficam apenas na mente, minha mão quente pendente sobre as formas que contorna os ondulares dos livros lado a lado na estante, os quadros na parede, a vitrola e os vinis, a estante de ébano e o vidro que protege a porcelana chinesa e os cristais, meu olhar rapidamente se distrai com um pássaro que pousa ao para peito da janela, o vento sopra cantando as arvores e agitando as cortinas, esvoaçantes espanta o pássaro que some entre as arvores. Logo volto aos contornos, até chegar ao quarto, o som ali é inebriante, um jazz penetrante, apóio-me a porta, torno a contornar, agora com os olhos apaixonados, observo o prisma dos cristais de um lustre do século XVIII muito bem conservado, as luzes refletidas em pequenos arco-íres se espalham pelo quarto, livros espalhados por toda parte, e almofadas indianas fazendo de todo o quarto um lugar para se deitar, três felinos siameses aconchegam-se entrelaçados próximo a um grande quadro de arthur rackham ilustrando Alice ao chá com o chapeleiro, a fumaça dença da erva que queimam iluminada por velas que fazem de castiçais garrafas de vinho francês, e emfim finco meus olhos ainda mais apaixonados, sobre as duas f iguras, a que queima a erva e o que bebe o vinho, observo-os atentamente seus olhares penetrantes, astutos e sedutores, e surpreendentemente, encontro amor em suas pupilas dilatadas, observo seus lábios, famintos, vermelhos, apaixonados, os dois seres pálidos chamam-me com um gesto, continuo a observar-los mais um tanto, como esculturas gregas no luvre, até que entreolham-se e sorriem para mim, para vida, para o mundo entender nossa forma de amor, para a musica se fazer musica e a poesia, poesia, e eu como num pulo felino encontro-me entre os dois anjos, o rapas de olhos negros como jabuticabas derrama de seus lábios vermelhos o seu vinho em minha boca, e a bela garota, de olhos verdes acinzentados, da fita de cetim azul turquesa que prende seus cachos loiros, algumas mechas saltas pendentes sobre seu peito, sopra de sua boca rosada a erva tragada, aspiro profundamente como se fosse o ultimo trago, e então, sou devorado por beijos vampirescos, o mais puro e sublime sentimento me ocorre, estou pleno, completo, nos amamos.





Texto: Marcelo Felipeti Junior