terça-feira, 23 de agosto de 2011

Murmurinhos d’água





Perfumada de terra, murmurinhos dӇgua,


Banham a cidade atarantada,


Já estava prevista nos jornais, as poças d’água.,


Um vuco-vuco toma os terminais,


E dos vitrais, um poeta calado,


Uma viúva, alguém do outro lado, meio que de lado,




E as crianças destemperança,


Marginais, sem país e pais,


Engolem a fome, abraçam o frio aos calafrios,


Exibem sua miséria sem mover se quer um fio,


do publico gente imiscível e vil.




Entre uma goteira e outra,


O menino se distrai num vazio erecto,


Nas frases eróticas e banais,


Escritas na porta, no banheiro publicam,


Num banheiro público,


A espera de qualquer rapaz,


Para um gozo, adeus e nunca mais.




A janela onde Clara debruçava-se,


Desfazia-se em negras lagrimas,


Está fechada,


Tua paisagem não mais está repleta de bitucas de cigarros,


De outras lagrimas passadas,


Deu espaço a ervas daninhas e musgos,


Que nasceram de tuas miragens,


Onde agora está Clara? Na escuridão de tuas magoas.




Uma criança chora, implora,


Por poder buscar teu livro de contos de fadas,


Que a chuva lá fora já o levou embora,


Pobre criança, esqueceu teus sonhos na rua,


Fadas , cavalheiros e castelos,


Arrastados ao esgoto em flagelos.




Na catedral, o bispo reza a reza dos finados da semana,


Com a chuva lá fora, só a mãe ai chora,


A morte de teu filho que levaram embora,


Maria do tanque, do feijão com farinha,


Dos tricôs e dos hinos ao senhor,


Tão devota, tão Maria, tão sofrida.




Onde foram todas as pombas dos arredores do centro velho?


Onde estão todos os gatos negros do cemitério?




Perfumada de terra, murmurinhos d’água,


Banham a cidade afogada em magoas,


Trazem as costas os teus fantasmas,


E os guarda-chuvas guardam os raios que o partam.




20-08-2011